quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Cuidado com a TEOLOGIA ABERTA !!!

Teologia Aberta: Deus de olhos fechados - Uma nova onda cheia de heresias!!!
Uma crítica ao Neoteísmo -

Vivemos um momento no mínimo curioso, visto que os homens querem “reinventar” Deus. A idéia, por si só, é absurda pois um dos conceitos fundamentais da teologia ortodoxa é que Deus não foi inventado, Ele sempre existiu! A conclusão é simples e lógica: não se pode reinventar aquilo, ou melhor, Aquele que não foi inventado mas sempre existiu. Mas o ser humano é criativo e capaz das façanhas mais mirabolantes para explicar o que não entende, ou até mesmo discordar, para se sentir inteligente, talvez baseado na máxima de Nelson Rodrigues de que ‘toda unanimidade é burra’. Seja como for e por motivações que não conhecemos, surgiu a Teologia Aberta, uma teologia que apresenta um Deus de olhos fechados, isso mesmo, um Deus que não conhece o futuro como conhecia antigamente.

Esta tentativa de reinventar a Deus também conhecida como Neoteísmo tem sido propagada no Brasil por pregadores brasileiros e por escritores como Clarck Pinnock, Richard Rice, John Sanders, William Hasker e David Basinger. De fato, eles trabalharam juntos num volume intitulado “The Openness of God” (literalmente: A Abertura de Deus).
Estudiosos concordam que esta doutrina é resultado de uma combinação de aspectos do pananteísmo ou teologia processual, visto que no neoteísmo Deus está em contínuo processo de mudança[1].

Não obstante os esforços dos proponentes para que este novo conceito sobre Deus seja recebido como teísmo ortodoxo, a verdade é que estão muito distantes disso. Dentre os vários aspectos desta nova doutrina destaco os seguintes:

1.Deus escolheu criar os seres humanos com ‘incompatibilística’ liberdade, sobre a qual ele não pode exercer total controle.

2.Deus valoriza tal liberdade a ponto de não interferir sobre ela, mesmo que esta produza resultados indesejáveis.

3.Deus não possui conhecimento exaustivo a respeito de como utilizaremos nossa liberdade, ainda que algumas vezes possa predizer com exatidão as decisões que tomaremos livremente.

A questão se torna extremamente séria quando, ainda que veladamente, os proponentes desta teologia afirmam que Deus é temporal, mutável, tem o potencial de tornar-se e não tem conhecimento infalível. Como se não bastasse, não tem controle absoluto do mundo e é capaz de aprender.

Um exemplo desta interpretação grosseira pode ser vista em Boyd, Sanders e Pinnock ao comentarem Gênesis 22:11,12: “Mas o anjo do SENHOR lhe bradou desde os céus, e disse: Abraão, Abraão! E ele disse: Eis-me aqui. Então disse: Não estendas a tua mão sobre o moço, e não lhe faças nada; porquanto agora sei que temes a Deus, e não me negaste o teu filho, o teu único filho.” Dizem eles:

Boyd: “O versículo claramente afirma que porquanto Abraão fez o que fez, assim o Senhor agora sabe que ele era um parceiro fiel na aliança. O versículo não teria sentido claro se Deus estivesse certo que Abraão o temia mesmo antes de ter oferecido seu filho.[2]”

Pinnock afirma: “Esta era uma parte de informação que Deus desejava assegurar-se.[3]”

Sanders: “Deus precisava saber se Abraão era o tipo de pessoa com quem Deus poderia contar como colaborador no cumprimento de seu divino projeto. Seria ele fiel? Ou teria Deus de encontrar algum outro através do qual pudesse cumprir seu propósito?[4]”

Noutras palavras, Deus estava, por assim dizer, roendo as unhas para saber se Abraão seria fiel ou não, mas consideremos o seguinte:

§ Se a frase “agora sei” for entendida como propõem aqueles que advogam a Teologia Aberta, seria uma contradição direta ao claro ensino das Escrituras do conhecimento exaustivo de Deus.

Salmo 147:5, Isaías 46:9-11, Salmo 139:1-6, Hebreus 4:13.

§ Seria razoável dizer que Deus só pode conhecer a fidelidade de Abraão porque ele levantou a faca? O que dizer da conduta anterior de Abraão? O que dizer de sua conduta no passado? Tal interpretação não só fere o conhecimento do futuro, mas ainda compromete o conhecimento do passado[5].

“O qual, em esperança, creu contra a esperança, tanto que ele tornou-se pai de muitas nações, conforme o que lhe fora dito: Assim será a tua descendência. E não enfraquecendo na fé, não atentou para o seu próprio corpo já amortecido, pois era já de quase cem anos, nem tampouco para o amortecimento do ventre de Sara. E não duvidou da promessa de Deus por incredulidade, mas foi fortificado na fé, dando glória a Deus, E estando certíssimo de que o que ele tinha prometido também era poderoso para o fazer. Assim isso lhe foi também imputado como justiça”. (Romanos 4:18-22)

Esta passagem demonstra que a fidelidade de Abraão já era conhecida antes mesmo de Sara e Abraão segurarem Isaque em seus braços!

▪ Em Hebreus 11:8-12; 17-19, temos uma belíssima descrição da fé de Abraão começando com o seu chamado em Ur dos Caldeus até o quase consumado sacrifício de Isaque. Abraão cria que Deus ressuscitaria Isaque dentre os mortos (Heb. 11:19). Isso ficou claro quando este pediu aos seus servos que o aguardassem junto ao jumento, e se foi com Isaque prometendo que ambos voltariam (Gên. 22:5). Estas informações estavam todas disponíveis para Deus antes que Abraão levantasse aquela faca.

▪ Se este incidente deveria revelar a Deus a fidelidade de Abraão, qual seria a garantia que ele não falharia no futuro? (Se Deus não sabe o futuro) Deveria haver outros testes?

▪ Se Deus não é Onisciente como sabia que naquele momento Abraão estava disposto a enterrar a faca no seu próprio filho? A intervenção divina deixa claro que Deus sabe de todas as coisas, portanto a passagem deve ser entendida à luz de seu contexto.

O fato é que o episódio em questão trazia benefícios para Abraão e não para Deus, como Delitzsch comenta:
“(…) Assim como quando ele (Abraão) deixou seu país, familiares e lar por ocasião do chamado de Deus (12:1), também estava ele em sua caminhada com Deus pronto a oferecer até mesmo seu próprio filho, o objeto de toda sua espera, a esperança de sua vida, a alegria de sua velhice. E ainda mais que isso, ele não apenas amava Isaque, o herdeiro de suas possessões (15:2), mas era sobre Isaque que todas as promessas de Deus repousavam: em Isaque será chamada a sua descendência (21:12). Pela solicitação de que ele deveria sacrificar a Deus seu único filho de Sara, sua esposa, em quem a sua semente deveria crescer e se tornar uma multidão de nações (17:4,6,16), a divina promessa em si mesma parece ser cancelada; também não apenas os desejos do seu próprio coração, mas também a repetida promessa de Deus seria frustrada. E por esta solicitação sua fé seria aperfeiçoada em uma confiança incondicional[6] em Deus, firme segurança de que Deus poderia até mesmo ressuscitá-lo dentre os mortos. (…)” [7]

Além disso, é importante notar que a ênfase sobre Deus “saber” algo como se ele não soubesse previamente seria passar de largo na dinâmica divino-humana e na relação finito e infinito entre Deus e homem. Como bem apresentou Geisler:

“A palavra Hebraica ‘saber’ em Gênesis 22:12 é o Qal[8] de [dy9 yada’ (LXX ginw&skw ginosko), expressando apenas a confirmação do seu conhecimento (Wenham 1994; Gên. 22:12).”

Um outro caso em que esta palavra é utilizada em Gênesis encontra-se no capítulo 4:1, quando nos é dito que Adão ‘conheceu’ sua esposa e ela concebeu, a palavra ali é também yada’ e indica a mais íntima relação entre um homem e uma mulher, o ato sexual. A palavra poderia também descrever um conhecimento mais profundo. Por assim dizer, Deus estreitou o relacionamento de Abraão consigo mesmo. Portanto ‘saber’ nesta passagem não significa que Deus tenha recebido uma informação de que não dispunha anteriormente, mas sim que ela se materializara. Assim, não considerar questões antropomórficas e lexicográficas nesta passagem levará a uma série de equívocos não só aqui, mas também em outras, como por exemplo:

Gênesis 18:21
O Deus onipresente diz: ‘Desçamos para ver…’ (Obviamente Deus não precisa descer para verificar algo.)

Gênesis 8
Lembrou-se Deus de Noé...(Deus esqueceu-se de Noé na Arca?)

Gênesis 18:32
Não a destruirei por amor dos dez...(Será que Deus não sabia quantos justos havia em Sodoma e Gomorra?)

A conclusão é óbvia: interpretação histórico-gramatical não pode ser, sob qualquer hipótese, confundida com “literalismo”, de fato todos os que se enveredaram nesta direção incorreram em alguma sorte de erro doutrinário. Quando começamos a questionar a infinitude da onisciência divina acabaremos invariavelmente por questionar ou comprometer outros de seus atributos.

Portanto podemos concluir que a falsa lógica deste modelo se baseia em algumas passagens isoladas, especialmente do Antigo Testamento, que, para o observador incauto, parecem sugerir que Deus se arrepende ou muda de opinião. É mais que uma interpretação literal, é uma interpretação literalista como a apresentada por Jack Miles em seu livro romanceado “Deus, uma Biografia”. Critérios simples, porém precisos, da hermenêutica e da teologia ortodoxa como a interpretação histórico-gramatical, os cuidados com figuras de linguagem (antropomorfismo, antropopatia, etc) foram postos de lado. Além disso, o neoteísmo ignora um número gigantesco de passagens que clara e explicitamente apresentam Deus como sendo absolutamente onisciente. Acabam assim fazendo uma ginástica monstruosa para harmonizar passagens claras com passagens obscuras[9].

Posso acrescentar ainda que nos rudimentos da interpretação bíblica é fundamental se fazer um estudo das palavras. Por exemplo: Ricardo Shultz após um detalhado estudo do termo hebraico nacham, freqüentemente traduzido por ‘arrepender-se’, chegou à seguinte conclusão:

“Das 34 vezes que o uso de nacham aplica-se a Deus, 26 vezes são afirmações gerais, 8 expressam a compaixão de Deus não enviando juízos sobre os homens. Mesmo quando os homens são sujeitos do verbo nacham, unicamente uma vez envolve diretamente a idéia de arrependimento, porém nenhuma envolve uma mudança intrínseca diante de um novo conhecimento.”

A conclusão de Shultz, após um pormenorizado estudo do termo, é que a idéia central simplesmente expressa compaixão por alguém. De forma alguma o termo apresenta um Deus hesitante, indeciso e fraco que muda diante de uma nova informação até então desconhecida. Ao que tudo indica a incoerência hermenêutica da Teologia Aberta deve ser a razão por que nunca tenha sido sustentada historicamente pelos pais da igreja. Os apologistas da fé Cristã sempre sustentaram o conhecimento exaustivo como sendo qualidade essencial de Deus.

Justino Mártir (100-165) afirmava que Deus conhecia desde toda a eternidade aqueles que seriam salvos[10] e, ainda, que Deus conhecia de antemão as pessoas que seriam salvas por arrependimento mesmo antes de nascerem[11]. Cipriano (200-258) fala do pré-conhecimento como atributo do Espírito Santo. Irineu (120-202) fala do pré-conhecimento de Deus a respeito das falsas doutrinas[12]. Poderíamos ir adiante nome após nome e data após data. Exceção são aqueles conhecidos pela história como hereges e não sustentadores da sã doutrina como por exemplo Marcion e Celsus. Justiça precisa ser feita quanto à pressuposição dos proponentes da Teologia Aberta quanto ao pré-conhecimento de Deus explicitamente apresentado nas Escrituras. Greg Boyd tem procurado resolver este problema afirmando que Deus conhece apenas aquilo que Ele determinou e propõe cinco áreas:

1.O povo escolhido

2.Indivíduos

3.O ministério de Cristo

4.Os eleitos

5.Alguns eventos escatológicos

O ponto é que a menos que o texto bíblico apresente especificamente o que Deus conhece, todo o restante não mencionado é desconhecido por Ele. Assim, os eventos pré-determinados por Deus dependem do Seu conhecimento do caráter das pessoas envolvidas e do estabelecimento de determinadas circunstâncias que produzirão a decisão desejada bem como a ação[13].

Estranhamente, neste conceito Deus coercitivamente usa determinadas circunstâncias para cumprir Sua vontade e por outro lado deixa uma infinidade de outras situações em aberto. Este conhecimento parcial, este olho de vidro gera sérios problemas, por exemplo: Jesus sabia que o Pedro o trairia porque Ele conhecia o caráter de Pedro. O Pai organizou o cenário (circunstâncias) adequado para que a profecia de Jesus se cumprisse. Mas como Jesus sabia quantas vezes Pedro o negaria? Como sabia que o galo cantaria? O conhecimento limitado não pode responder a questões simples como estas. Willian Lane Craig oferece uma defesa muito interessante sobre o conhecimento exaustivo de Deus versus conhecimento parcial. Vejamos:
“Seu conhecimento do futuro não pode ser baseado em pré-ordenação apenas, isto porque Ele pré-conhece nossos pensamentos, intenções e até nossos atos pecaminosos. Considerando que Deus não é responsável por estas atividades humanas, segue-se que Ele não as produz. São, portanto, verdadeiramente ações livres ou contingentes, e o pré-conhecimento delas indica pré-conhecimento de futuras ações livres.[14]”
Fica claro que dentre vários riscos, o comprometimento apologético é inevitável na Teologia Aberta, visto que todo material profético será espiritualizado ou generalizado, tudo reduzido a uma montanha de possibilidades. O que dizer ainda de todos os tipo e antítipos apresentados ao longo do desenvolvimento da revelação divina se Deus não conhece exaustivamente todas as coisas?
Esta apresentação de uma teologia aberta com um Deus de olhos fechados oferece um falso altar para a adoração de um falso deus. Devemos lembrar que o povo de Israel, não obstante o fato de terem em mãos a revelação de Deus, não poucas vezes O substituíram por outro. Um caso clássico é o bezerro de ouro no texto de Êxodo 32:2-5:

“2E Arão lhes disse: Tirai os pendentes de ouro que estão nas orelhas de vossas mulheres, de vossos filhos e de vossas filhas, e trazei-mos. 3Então todo o povo, tirando os pendentes de ouro que estavam nas suas orelhas, os trouxe a Arão; 4ele os recebeu de suas mãos, e com um buril deu forma ao ouro, e dele fez um bezerro de fundição. Então eles exclamaram: Eis aqui, ó Israel, o teu deus, que te tirou da terra do Egito. 5E Arão, vendo isto, edificou um altar diante do bezerro e, fazendo uma proclamação, disse: Amanhã haverá festa ao Senhor.”
Esta passagem deixa claro que idolatria não se resume apenas em adorar um deus pagão, mas paganizar o Deus verdadeiro e reduzi-lo à imaginação dos homens. É exatamente isso que a Teologia Aberta tem feito, tem feito Deus à imagem e semelhança dos homens.

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BIBLIOGRAFIA:

[1] Normam L. Geisler, Creating God the Image of Man? Minneapolis: Bethany, 1997, cap 4.
[2] Boyd, Gregory – God Of The Possible, p. 64, Baker Books, 2000
[3] Pinnock, Clark– The Openness Of God: A Biblical Challenge To The Traditional Understanding Of God, Intervarsity Press, 1994
[4] Sanders, John – The God Who Risks: A Theology Of Providence, 52,53, Intervarsity Press, 1998
[5] Ware, Bruce – God’s Lesser Glory, 67-74, Crossway Books, 2000
[6] Todas as palavras sublinhadas, em negrito e itálico nos versículos e citações foram destacadas com intenção de ênfase e clareza.
[7] C.F. Keil, F. Delitzsch, Commentary on the Old Testament, Vol 1:252, W. Eerdmans Publishing Company, Grand Rapids, Michigan, 1978.
[8] Raiz do verbo em hebraico
[9] Greg Boyd, God of the Possible, p.53-87; Richard Rice, “Biblical support for New Perspective”, Clark Pinnock, The Openness of God, p. 22-38
[10] First Apology 45 in ANF 1:178
[11] Idem 44 ANF 1:177
[12] Against Heresies 3.21.9 ANF 1.453
[13] Boyd, 35-39.
[14] William Lane Craig, The Only Wise God: The Compatibility of Divine Foreknowledge and Human Freedom, 1987.

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